
Edição: 473 | Texto por: Coronel ENGEL Pedro Costa
O Centro de Operações Espaciais (COE), inaugurado a 24 de setembro de 2024 no Comando Aéreo, representa o marco inicial da capacidade operacional espacial da Força Aérea Portuguesa (FAP). A sua missão primordial é exercer a vigilância, o conhecimento da situação espacial de interesse e o apoio espacial ao planeamento e execução das missões atribuídas à Força Aérea. Este centro é um elemento central na estratégia da FAP, que visa maximizar o conhecimento, as competências e as capacidades da instituição no domínio aeroespacial, conforme estabelecido na "Força Aérea 5.3: Transformação do Poder Aeroespacial Nacional 2024-2030". Ao estar co-localizado com o Centro de Operações Aéreas, o Centro de Fusão de Informação e o Centro de Meteorologia da Força Aérea, o COE maximiza recursos e competências já existentes para a recolha, fusão e disseminação de informação espacial, promovendo a coordenação operacional eficiente das atividades espaciais na área da Defesa.
O valor operacional do COE abrange duas áreas funcionais cruciais: Space Surveillance and Awareness (SSA) / Space Surveillance and Tracking (SST) e Intelligence, Surveillance and Reconnaissance (ISR).
- Na área de SSA/SST, o COE colabora com a empresa portuguesa Neuraspace, utilizando dados de um telescópio ótico avançado, o mais sofisticado de Portugal e um dos mais avançados da Europa, instalado na Base Aérea N.º 11, em Beja. Estes dados, complementados por informações de um telescópio no Chile, contribuem para a segurança e sustentabilidade do Espaço exterior, permitindo o acompanhamento de objetos espaciais e a prevenção de colisões com detritos e outros satélites. O COE monitoriza ativamente satélites nacionais como o PoSAT-1 (o primeiro satélite português, lançado em 1993, que, apesar de inoperativo, continua a ser responsabilidade nacional e monitorizado para alertas de colisão), bem como o IST Sat1, MH01, Deimos 1 e 2, e Promethius. Além disso, o COE integra dados do Space Track (USSPACECOM) e beneficia da cooperação internacional no âmbito do programa European Space Surveillance and Tracking (EU SST) e da relação com o NATO Space Operations Centre. Também integra informações de Space Weather provenientes do Centro de Informação Meteorológica da FAP, e poderá apoiar missões de Proteção Civil no acompanhamento de reentradas de objetos espaciais. A FAP, através do COE, participa ativamente no projeto europeu Emissary, que visa fortalecer a capacidade europeia de SSA.
- Na área de ISR, o COE estabeleceu uma parceria estratégica com a Geosat, o único operador de satélites em Portugal e o segundo maior operador de satélites óticos de alta resolução na União Europeia. Esta colaboração permite o acesso a imagens de satélite e a possibilidade de "tasking" dos satélites da Geosat. Para superar as limitações das imagens óticas (afetadas por nuvens e baixa luminosidade), a FAP, através do COE, lidera o Work Package 10 (WP10) da Agenda Mobilizadora "New Space Portugal", focado na "Constelação Synthetic Aperture Radar (SAR)". Esta iniciativa, em parceria com a empresa finlandesa ICEYE, visa a aquisição de um satélite SAR de última geração, o respetivo segmento terrestre e a formação para a sua operação, visando uma capacidade soberana de observação terrestre 24/7, em quaisquer condições atmosféricas. As imagens SAR, com resoluções de detalhe muito altas (inferiores a 25 cm por pixel), são cruciais para a vigilância persistente de áreas geográficas de interesse estratégico, como o espaço euro-atlântico. O COE já coordena o acesso a estas imagens não só para a FAP, mas também para a Marinha, Exército, Força de Reação Imediata, Proteção Civil e Forças e Serviços de Segurança, demonstrando a aplicação multidomínio dos seus produtos operacionais. A análise das imagens é realizada pelo Centro de Fusão de Informação da FAP, evitando duplicações.
A capacitação de recursos humanos é um pilar fundamental para o COE, com um investimento contínuo na formação específica dos seus militares, incluindo cursos na NATO School, formações bilaterais com forças aéreas congéneres (Brasil e Espanha), e a participação em exercícios espaciais militares como o Real Thaw, AsterX (França), e Global Sentinel (EUA). A Pós-Graduação em "Espaço na Defesa e Segurança Nacional" no Centro de Estudos Aeroespaciais da Academia da Força Aérea, iniciada em setembro de 2024, reforça esta aposta no capital humano.
O COE é um elemento central no "Plano de Voo Rumo ao Espaço" da Força Aérea, que tem um roteiro até 2034 para a materialização e integração plena da Capacidade Militar no Domínio Espaço. Esta iniciativa não só reforça a soberania nacional, mas também posiciona Portugal como um parceiro confiável e proativo na comunidade internacional.
O Centro de Operações Espaciais da Força Aérea centraliza, processa e distribui a informação vital que permite a Portugal não só "ver" e "agir" no espaço, mas também proteger os seus interesses, transformando a vigilância e a segurança num novo domínio estratégico para a nação.
Assine e descubra o artigo completo.